publicado dia 22 de novembro de 2013
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“A criança que mora aqui não precisa atravessar nenhuma rua para chegar ao centro educativo e cultural”.
É dessa maneira que o arquiteto Ruy Ohtake, 75, descreve os principais ganhos do Conjunto Habitacional de Heliópolis, obra que projetou em uma das maiores e mais conhecidas comunidades de São Paulo. O Censo de 2010 apontou que Heliópolis possui 120 mil habitantes, número suficiente para compará-la a uma cidade de porte médio.
Com verba proveniente do programa federal Minha Casa Minha Vida e da prefeitura paulistana, o projeto contempla 13 prédios cilíndricos – com quatro apartamentos em cada um dos cinco andares – interligados por um espaço composto por duas creches, duas escolas (uma de Ensino Infantil e outra de Fundamental) e uma área esportiva. “Os Redondinhos – como são carinhosamente chamados – carregam o conceito de uma educação como centro da vida”, explica Ohtake.
Perspectiva urbanística
O arquiteto paulistano esteve presente hoje (22/11) em uma discussão do III Seminário da Educação “Heliópolis, Bairro Educador” que debateu a relação entre espaço público e educação em uma perspectiva urbanística.
Ao fazer um resgate histórico da criação do Polo Cultural de Heliópolis, Ohtake garantiu que a estética visual das escolas contribui para sua valorização perante alunos e pais e também facilita a apropriação pelos moradores da região. “As comunidades têm que ter orgulho de suas escolas”, afirma o arquiteto.
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Ele lembrou que, antes de ser cedido pela prefeitura da capital durante a gestão Marta Suplicy, o terreno era um estacionamento de ônibus. “Aqui onde estamos havia um matagal cheio de cobra, rato, barata. Então, saiu o mato e entrou a creche”, rememora.
“O que vemos hoje é um dos melhores polos educacionais do Brasil, um verdadeiro parque onde estão construídos edifícios de educação e no qual os jovens têm toda a liberdade para evoluírem”.
Mistura
Para o urbanista Caio Santo Amore, coordenador de arquitetura do Instituto Peabiru, na comunidade de Heliópolis – “construída sem planejamento, mas fruto de muito esforço de trabalhadores” – se estabelecem acordos entre os moradores que pouco são vistos em outras regiões de São Paulo. “Aqui, o espaço público é apropriado por quem nele vive. A rua tem outro sentido, o espaço do pedestre e do automóvel pode ser compartilhados”.
Ele acredita que Heliópolis dá uma lição para o resto da cidade de que os espaços podem ser mais misturados. “É uma região miscigenada que, ao não fazer segregação, cria espaços de convívio onde não existiam.” Para ele, “apesar da boa vontade dos arquitetos, o espaço público em sua essência não se desenha – é um espaço que se molda de acordo com o seu uso”.
Urbanização humana
Segundo a organização, o Seminário contou com a participação de mais de 500 pessoas. Uma delas era Antonia Cleide Alves, presidente da UNAS (União de Núcleos, Associações e Sociedades dos Moradores de Heliópolis e São João Clímaco) e moradora de Heliópolis desde 1971. Cearense, ela recordou dos tempos em que desembarcou na metrópole e foi viver na favela da Vila Prudente. “Quando o espaço em que se vive não tem educação, o crescimento humano é podado”, afirma Cleide.
Para ela, a comunidade não quer uma urbanização que arrase os quarteirões, “mas sim uma que traga cultura, que dialogue com a biblioteca, com o posto de saúde e com os espaços públicos já existentes”.
Cidade solidária
Ao final, foi consenso entre os participantes que Heliópolis deve ser considerada um exemplo de sucesso para o desenvolvimento de comunidades vulneráveis. “É preciso começar com uma pequena rede educacional dentro de cada uma dessas regiões”, defendeu Ohtake.
“Aqui em Heliópolis vemos a rua da Mina, da Alegria, da União, rua João Miranda, Miguel Borges, Maria Ruth – todos nomes de pessoas que construíram a história da comunidade”, observa Santo Amore. “Esses espaços ensinam não apenas como Heliópolis funciona, mas como uma cidade mais solidária poderia funcionar.”
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