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publicado dia 26 de setembro de 2013

Jovens fotógrafos retratam periferias e imaginário de Belo Horizonte

Reportagem:

Há na fotografia a forte impressão do “outro”. Na relação do fotógrafo – que domina a técnica, a ferramenta e o saber – com a pessoa, o cenário ou o objeto fotografado. A alteridade também está presente na contemplação silenciosa dos museus, exposições e galerias, onde o visitante acompanha o instantâneo de um povo, fragmentos de paisagens, vidas, sem que, para isso, precise deslocar-se de seu lugar no mundo.

A inversão desta relação é um dos principais méritos do Imaginário Coletivo, um projeto que se desenrola nos becos e vielas das favelas do Morro do Papagaio e do Aglomerado da Serra, ambas na região centro-sul de Belo Horizonte (MG). Em vez de fotógrafos profissionais, estão lá jovens moradores da região munidos de câmeras. No lugar de galerias, as fotos são expostas em muros, paredes, escolas, casas e no Muquifu, o Museu de Quilombos e Favelas, localizado dentro da comunidade.

A iniciativa é uma criação de Jorge Quintão, que desde 2009 dá aulas de fotografia para crianças de 9 a 13 anos na Escola Municipal Ulysses Guimarães. Ele conta que, ao trabalhar como fotojornalista, sentia que tirava “souvenires” de onde passava, de lugares aos quais não pertencia. “A imagem desses lugares ficava com a minha voz, carregava uma série de conclusões. Percebemos que o jovem – justamente aquele que tem sua voz mais negada – poderia fazer isso”, analisa Quintão.

Após as oficinas, onde são passados técnicas de enquadramento, ajuste de luminosidade e outros artifícios da fotografia, os jovens saem pelo bairro para fotografar as pessoas que compõem sua rotina, as ruas que eles conhecem tão bem quanto a palma da mão. E fazem isso em um mundo marcado pela profusão de imagens.

“A imagem está em toda parte, eles são muito midiáticos. Tratamos de trabalhar qual é a significação daquela imagem produzida, que não é plana, que inclui você. É uma junção de significados e para o jovem é fantástico quando ele percebe que pode dizer algo com aquilo, que está  fazendo porque que quer, que decide tudo sobre a foto. É uma arma na mão deles”, reflete o fotógrafo.

Recentemente, dois alunos que participam do projeto “Olhares em Foco, orientado por Quintão, Marlon, 10, e Natanael, 12, tiveram suas fotos selecionadas em um concurso do SESC, chamado “Os Impactos socioeconômicos do futebol”, exposição que percorrerá o estado de Minas. As fotos de Marlon (abaixo) e Natanael (acima) concorreram com 10 mil pessoas. “A imagem deles tem uma maturidade. Ele põe pra fora essa rebeldia com a foto. Muitas vezes o jovem está angustiado, com questões pessoais, familiares, e tudo isso se transfigura na imagem.”

Em março deste ano, Júlio César, 15, foi selecionado para o 3º Festival de Fotografia de Tiradentes e teve sua foto (abaixo) exposta nas galerias e ruas da cidade do interior mineiro. “Os moradores ficam impressionados com a qualidade das fotos dos meninos. Nem acreditam de tão boas. Tudo o que está ao redor deles é explorado e os jovens passaram a conhecer melhor o ambiente onde moram”, conta Edson Ferreira de Jesus, 34, pai de Ana Carolina, 16, e Carlos Eduardo, 15, que participam do projeto.

Para Edson, é tanto a realização de um sonho seu, como a criação de um sonho para os filhos. “Eu mesmo quando era adolescente tinha uma máquina e adorava fotografar só que não tinha quem me ensinasse, instruísse. Desde pequeno eu mostro para os meus filhos retratos e fotos antigas. Antes eles não tinham sonho nenhum. Agora o sonho deles é ter isso como profissão, eles ficaram apaixonados por fotografia. ”, afirma entusiasmado Edson.

Atualmente, os jovens do Imaginário Coletivo estão fotografando uma área do Morro do Papagaio onde centenas de famílias correm risco de serem removidas para instalação de fios de alta tensão da Companhia Elétrica de Minas Gerais. A região, que compreende as vilas Esperança e Santa Rita, pode ter até 440 casas desapropriadas. Em audiência pública, um morador sugeriu a instalação de fios subterrâneos, o que diminuiria em 300 o número de habitações removidas. Mas nada garante que isso se concretize.

Pelo sim e pelo não, os jovens foram registrar a história e identidade do local. “Um trabalho de resgate da memória, das histórias de vida dos moradores e dos seus ilustres personagens, na tentativa de manter vivo todo o patrimônio imaterial da localidade”, informa a descrição da experiência.

O resultado está em exposição lançada ontem (25/9), no Muquifu, junto às fotos da Vila São Bento, do Festival de Gastronomia do Morro do Papagaio e o resultado de oficinas da técnica de Lightpainting.

Tudo está no olhar – Imaginário Coletivo from Jorge Quintão on Vimeo.

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