publicado dia 17 de julho de 2013
A universidade é caracterizada como um espaço de debate democrático, espaço para críticas, divergências e produção de conhecimento. Não à toa, foi palco, durante os anos de chumbo da ditadura militar, de diversos episódios de resistência ao autoritarismo. Até um órgão, vinculado ao Ministério da Educação, foi criado para fiscalizar as atividades acadêmicas. A Assessoria Especial de Segurança e Informação (Aesi) destacava departamentos locais para as principais universidades do país. Estudantes foram assassinados, reitores exonerados, professores demitidos e torturados. Em cada corredor, um delator e um militante. Em cada sala de aula, um dedo duro e um docente ameaçado.
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Neste contexto, a instalação da Comissão Nacional da Verdade, responsável por apurar os crimes cometidos pelo estado brasileiro entre 1946 e 1988, motivou o surgimento de diversas outras iniciativas paralelas, que buscam contribuir com a construção da memória e da justiça no país. O Portal Aprendiz realizou um levantamento inédito para mapear as instituições de ensino que resolveram abrir seus porões, portões e arquivos para esse fim, criando suas próprias comissões. Veja abaixo o mapa e clique nos marcadores para ver a descrição de cada uma das 16 iniciativas.
(Para visualizar o mapa em tamanho grande, clique aqui)
Conhecimento é memória
“Precisamos resgatar a memória histórica para que possamos nos orientar enfaticamente para um futuro em que os direitos humanos sejam algo inegociável”, projeta Luccas Gianini Cartocci, 21, membro do corpo discente da Comissão da Faculdade de Direito da USP, fazendo referência à Lei da Anistia, que perdoou torturadores em 1979. Para ele, a universidade é uma instituição que estava inserida no contexto do regime militar e por isso mesmo tem a obrigação de olhar para o seu passado.
“É importante ter comissões da verdade em instituições de ensino pois a produção de conhecimento do período reverbera até hoje. Precisamos responder as perguntas: como a universidade se constituiu a partir da ditadura e o que ela criou com isso? Como o que foi feito lá atrás nos afeta até hoje? Quanto da pesquisa científica não foi cerceada?”, pondera o estudante.
Norton Nohama, assessor de gabinete da reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e membro do Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça, vê a universidade como um pólo importante na busca por justiça para vítimas. “A universidade têm pesquisadores na mais diversas áreas que podem ajudar bastante na investigação”, reporta Nohama.
O assessor da UFPR, instituição que tem sua própria comissão desde o ano passado, também enfatiza que “a universidade é o espaço democrático republicano por excelência, onde a pluralidade tem que ser construída. Ela faz parte do processo de formação da cidadania e não pode deixar de participar do processo de resgaste do passado”.