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publicado dia 27 de maio de 2013

Jovens do Jardim Ângela reivindicam melhorias para a região

“Saio da escola revoltado porque não aprendo nada. Fico triste quando eu só vejo destruição e maldade: não tem cultura, nem tem nada pra fazer aqui. A violência é gerada pelo governo, que é omisso. Minha mãe chega tarde toda noite pois o trânsito é horrível. Aqui mora muita gente e não tem investimento em nada. Isso vai continuar assim?”, desabafou Luiz Augusto, um jovem de 13 anos que participou da audiência pública “Jovens do Fundão”, ocorrida no último sábado (25/5), no CEU Vila do Sol.

Protesto durante audiência pediu menos palavras e mais ações.

Ele estava em sincronia com a faixa pendurada na mesa do evento, com os dizeres “Solte sua voz!”. Organizada pela subprefeitura do M’Boi Mirim e pela Coordenaria Municipal de Juventude de São Paulo, com apoio da Rede Juventude, Criança e Adolescente (Rede Juca), a primeira audiência do gênero na região reuniu ao todo 60 jovens que ansiavam serem ouvidos.

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Quando o vereador Paulo Reis (PT) pediu a palavra para justificar sua saída antecipada do evento, Isaac Souza, da Rede Juca, tirou o microfone do parlamentar e contestou a postura. “Muitas vezes os parlamentares chegam, fazem o discurso deles e vão embora. Eles dizem e vocês ouvem, mas quando vocês falam, eles vão embora. Nunca estão aqui e quando vêm já querem ir embora”, protestou, sendo recebido com fortes aplausos.

Durante as falas oficiais, que ocuparam a primeira hora e meia da audiência, jovens levantavam plaquinhas com mensagens criativas e improvisadas: “Chega de blá blá blá”, “tudo vai acabar em pizza”. Os apelos tiveram eco em parte da mesa, que tratou de apressar as apresentações institucionais para dar vez à juventude.

Trânsito

O subprefeito de M’Boi Mirim, Antônio Carlos Dias, recém-empossado pelo prefeito Fernando Haddad, apresentou dados sobre a região que compreende o Fundão do Jardim Ângela.  Com 14 mil habitações em áreas de riscos, M’Boi possui 170 favelas com 34 mil domicílios.

[stextbox id=”custom” caption=”ONU” float=”true” align=”right” width=”250″]Considerada pelas Nações Unidas, em 1996, a zona urbana mais violenta do mundo, com 130 homicídios para cada 100 mil habitantes, a região tem hoje melhores índices de violência, mas continua sendo uma das mais vulneráveis da cidade.[/stextbox]

Até 2016, segundo Dias, a administração municipal espera incluir 3.450 famílias no programa de reurbanização. Estão previstos também investimentos de R$ 1,9 bilhão na recuperação da estrutura local e alargamento da Estrada do M’Boi Mirim, principal via de escoamento de trânsito do Jardim Ângela.

“Se eu não gastasse 3 horas dentro de um ônibus teria tempo para fazer tantas outras atividades. Eu sei que eu posso, eu só não tenho como”, afirmou uma jovem. O trânsito foi citado durante a audiência como um dos problemas mais crônicos da região. Ruas de barro, poucas linhas de ônibus, ausência de metrô tornam um pesadelo qualquer deslocamento por aquela área.

Como dar conta do que falta quando falta tudo

Mesa da audiência foi desfeita e ao final todos os presentes sentaram em roda.

Lixões em vias públicas, brinquedos deteriorados, praças destruídas. “Por que limpeza é um privilégio de bairro rico?”, questionou uma garota que vive num bairro com déficit de 11 mil vagas em creches. “Se a polícia é treinada para nos defender, quem nos defende deles?”, indagou Michael, um dos que reclamaram dos constantes ataques das forças de segurança.

Gabriel Medina, Coordenador de Juventude da prefeitura, afirmou que embora a gestão da Polícia Militar seja de alçada do governo estadual, a prefeitura está organizando ações em 3 territórios da zona sul da cidade para criar um programa que pretende reduzir a taxa de homicídios entre jovens.

“Pobreza não é sinônimo de violência. Quem criou isso foi o Estado por não dar direitos e garantir condições mínimas. Hoje 70% dos mortos pela PM são negros. A política pública que chega do Estado na favela é a da porrada. Jovem é sujeito de direito, não só alvo de batida”, lembrou o coordenador.

A falta de acesso à equipamentos de cultura e lazer foi outro ponto abordado pelos participantes da audiência. “A pista de skate não sai do papel e os skatistas são proibidos de entrar no CEU. Parece que só vai ter pista quando um skatista morrer na rua. Por enquanto, estamos aqui um cuidando do outro”, reclamou Michael.

Educação deficitária

Em 13 de março, o Portal Aprendiz noticiou o profundo descaso do poder público com as as escolas do “fundão” do Jardim Ângela: falta de professores, estrutura física degradada e salas superlotadas. Dois meses depois, o cenário é o mesmo.

Segundo apresentação organizada por estudantes da E. E. Honório Monteiro, muita coisa permanece igual. “Aqui os professores não são valorizados. Como eles vão se empenhar se o trabalho não compensa? Faltam funcionários, fica tudo sempre sujo. Todas escolas da região estão com salas superlotadas”, reclamou Nilcy Hellen.

Mas reivindicação também pode resultar em punição. Uma jovem declarou ter sido suspensa por solicitar à direção da escola materiais para fazer atividades. “Eu não tenho voz”, reclamou a aluna. Débora Campos, Assistente Técnica da Diretoria de Ensino da Região Sul II, disse que já houve mudanças na direção das escolas e que os problemas devem ser atendidos em breve.

“Muitas vezes essas demandas não chegam. É importante que os jovens se organizem para levar suas reivindicações até nós”, declarou Débora, que se reuniu com os estudantes da Honório Monteiro após a audiência.

Futuro

“E ai, como fica?”. Assim terminou a apresentação dos jovens sobre sua escola, seguindo o tom da intervenção da maioria dos adolescentes ali presentes. Cansados de promessas, campanhas políticas e palavras vazias, não hesitaram em levantar suas vozes para cobrar a presença do poder público.

“As coisas vão acontecer, não em um passe de mágica, mas precisamos contar com essa participação. Não queremos jovens amiguinhos da escola, que façam canteiro. Queremos jovens que critiquem a escola, que definam o que querem aprender”, declarou Medina, que considerou a audiência um passo importante e um espaço de “desabafo” para a juventude.

Jovens fizeram apresentação para mostrar problemas que enfrentam na escola.

“Fiquei impressionado com a representatividade. Além de muitos jovens, tivemos autoridades importantes, que poderão dar respostas para a região”, ponderou Bruno Jesus de Almeida, auxiliar de juventude da subprefeitura de M’Boi Mirim.

Quem quiser dar mais sugestões ou acompanhar os encaminhamentos da audiência, pode entrar em contato com a subprefeitura pelo telefone (3396-8400). Audiências semelhantes serão marcadas também em todos distritos da cidade.



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