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publicado dia 2 de maio de 2013

Professor comunitário amplia relação da escola com a cidade

Atuação de professores comunitários contribui para estreitar relações, ampliando espaços, tempos e oportunidades de aprendizado.

Imaginar escolas sem muros, conectadas com o bairro e a cidade, criando um ambiente de aprendizagem a céu aberto ainda é um desafio para a educação brasileira. Mas diversas instituições de ensino já vivenciam um processo de transição rumo a esse cenário. Graças à atuação de professores comunitários, escolas e comunidades vêm estreitando relações e ampliando espaços, tempos e oportunidades de aprendizado.

De acordo com Heitor Martins de Oliveira, coordenador geral de Educação Integral do programa Mais Educação – política pública do governo federal voltada à promoção da educação integral nas escolas – o professor comunitário busca conectar “os novos saberes, os novos espaços, as políticas públicas e o currículo escolar estabelecido”. Pelo programa, esses profissionais são concursados e integram o quadro de funcionários da escola.

[stextbox id=”custom” caption=”Educação Integral” float=”true” align=”right” width=”275″]“Como ideal de uma educação pública e democrática, a proposta de educação integral presente na legislação educacional brasileira, compreende o ser humano em suas múltiplas dimensões e como ser de direito. A perspectiva é ampliar tempos, espaços, atores envolvidos no processo e oportunidades educativos em benefício da melhoria de qualidade da educação dos milhares de alunos brasileiros” [Fonte: Programa Mais Educação – Passo a Passo][/stextbox]

Por meio do mapeamento das oportunidades educativas dos territórios, o professor comunitário estabelece parcerias capazes de alavancar a participação comunitária na escola. “Ele aprofunda o diálogo e dá significado às atividades complementares [extraclasse] de forma integrada, garantindo conexão entre todo o aprendizado no âmbito da escola”, afirma Oliveira.

Seguindo as diretrizes do Mais Educação, que recomenda para a função um forte vínculo do professor com a comunidade escolar, a proposta vem sendo colocada em prática Brasil afora respeitando a realidade de cada local.

Sorocaba

Um dos exemplos pode ser visto na cidade de Sorocaba, no interior de São Paulo. Lá funcionam as “Oficinas do Saber”, com atividades voltadas ao aprendizado de dança, teatro, xadrez, música, línguas e leitura, todos os dias da semana, no contraturno escolar. Implementada pela Secretaria Municipal de Educação, atende por volta de 8 mil crianças em todo o município.

Conceição Aparecida Artuso Grazzi é educadora comunitária no bairro Jardim São Guilherme, em uma das unidades da oficina ligada à escola municipal Hélio Rosa Baldy. Lá ela atua como coordenadora das atividades. Entre suas iniciativas, em 2012, Conceição propôs o “chá literário”, uma oficina que misturava leitura e artesanato e tinha como objetivo aproximar os pais do cotidiano escolar.

Conceição percebeu que, com a proposta, os pais começaram a participar das reuniões da escola e houve, inclusive, uma melhora no relacionamento entre os estudantes, que se sentiam mais motivados a aprender. “Nas oficinas os alunos aprendem o conteúdo em si da atividade, mas também a importância do aprendizado e da convivência solidária com os colegas”, ressalta.

Para atuar em Sorocaba, o educador comunitário deve, além de ser concursado, passar por um programa específico de formação voltada à atuação pedagógica comunitária.

Rio de Janeiro

Educadora comunitária no Rio de Janeiro, Aparecida Melo trabalha no Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Vila Kenedy, escola de tempo integral em Bangu, que atende aos alunos da primeira à quinta série. Segundo estimativa da coordenadoria do programa “Escola Aberta – Mais Educação”, aproximadamente 475 escolas do município contam com a figura do educador comunitário.

Residente no bairro há 48 anos, Cida, como é conhecida na comunidade, trabalha conforme as diretrizes pedagógicas do programa Mais Educação. “A ideia é a integração entre crianças, vizinhos e professores na construção da paz, da boa convivência que surge a partir da educação, pelas interações e entendimentos que promove.”

A cada ano – e a partir de um alinhamento com o programa político-pedagógico da escola – um tema é escolhido para nortear as atividades que serão realizadas com os alunos. Desde o início de 2013, “O Caminho da Gentileza” está levando as crianças a promoverem campanhas de preservação do entorno da escola, com foco nas intervenções ambientais. A ideia, ressalta Cida, é “ensinar a valorização local, mostrando para a criança sua participação nos cuidados com o bairro, seus direitos e obrigações”.

Para contornar problemas ligados ao comportamento dos estudantes, Cida investe em atividades acolhedoras, que abordam a cidadania e apresentam alternativas de atuação no mundo, destacando a importância da formação de vínculos. “A cada avanço do estudante, reconhecemos as consequências construtivas, mesmo que o impulso inicial tenha sido um sentimento de raiva”, pontua a educadora.

A transformação, segundo ela, não é rápida. Para isso, conta com o apoio dos familiares. O próximo passo, previsto para ser posto em prática ainda esse ano, são oficinas também com os pais. “A ideia é mudar a mentalidade. Ao invés do ‘mandar o meu filho para a escola’, trazer este pai ou mãe para participar das atividades no Ciep.”

Ângela Belarmino tem dois filhos no Ciep Villa Kennedy e viu na prática os benefícios da atuação de Cida. “É importante a parceria com o educador comunitário porque é uma forma de tanto o professor conhecer melhor a realidade do aluno, quanto os pais acompanharem mais de perto o aprendizado dos seus filhos”

Ela cita o Conselho Escolar da Comunidade como um importante espaço de decisão. Formado por pais, alunos e a direção, as reuniões permitem que os responsáveis conversem e decidam coletivamente sobre os usos da escola fora do horário das aulas, as dificuldades do dia a dia escolar, ou até mesmo como ter acesso a outros serviços do bairro.

De volta à escola

Outra iniciativa brasileira de aproximação entre comunidade e escola é o “Professor da Família”, realizado em Minas Gerais. Implantado em 2011 pelo governo do estado, difere-se da proposta do Mais Educação porque tem como objetivo incentivar pais e responsáveis a retomarem os estudos, elevando o nível de escolaridade da população.

O programa prevê a realização de visitas domiciliares para mapear as demandas e dificuldade dos alunos, incluindo as respectivas famílias inscritas no programa. Em 2013 serão 43 municípios atendidos. Até agora, os agentes educacionais levaram aproximadamente 500 pais e responsáveis de volta aos bancos escolares.

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