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publicado dia 5 de abril de 2012

Experiência de ensino integral em Manaus dribla baixos indicadores

Fundação Nokia de Ensino destaca-se no estado com bons resultados do Enem e baixa taxa de evasão.

Todos os dias, Marenice Melo de Carvalho acorda às 4h30, toma banho, coloca o uniforme, despede-se da mãe e pega o ônibus que sai do bairro Redenção e segue até a região do distrito industrial, em Manaus (AM). Às 7h, chega à Fundação Nokia de Ensino (FNE), onde toma café da manhã com os colegas e, em seguida, entra na sala para assistir à primeira aula do dia.

A adolescente de 15 anos foi uma das 5 mil pessoas que se inscreveram no concorrido processo seletivo da instituição, que destina 70% das 160 vagas oferecidas anualmente para quem veio de escolas públicas. Ela, que estudou a vida inteira em colégio estadual, cursa hoje o 1º ano do Ensino Médio, com Técnico em Eletricidade.

Assim como 55% dos estudantes, Marenice não paga mensalidade, recebe uniforme e empréstimo de material escolar. A diretora pedagógica, Ana Rita Arruda, explica que as famílias com renda inferior a três salários mínimos são isentas. “Os outros pagam proporcional ao que recebem e o preço varia de R$ 180 a R$ 620”, complementa.

A instituição oferece três alimentações diárias: café da manhã, almoço e lanche da tarde.

Realidade educacional do Amazonas

De acordo com os últimos  levantamentos do Ministério da Educação (MEC), o Amazonas, mesmo registrando melhorias na qualidade da educação, permanece com péssimos indicadores educacionais. Além do baixo desempenho no Índice de Educação Básica (Ideb) – média de 3,3 (numa escala de 0 a 10) e 16ª posição no ranking nacional, em 2009 – há ainda uma alta taxa de evasão no Ensino Médio – 65,6%, segundo os últimos dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

“O Amazonas é o que apresenta piores resultados, principalmente, por conta da falta de políticas públicas e da dificuldade de acesso causada pelas grandes distâncias. Demoram dias para levar um material escolar da capital para o interior de barco e todo esse transporte é muito caro”, opina Ana Rita.

Diante dessa precariedade, os nativos encontram dificuldades para ingressar no Ensino Superior público, que não raramente tem suas cadeiras ocupadas por alunos de outros estados.  Em 2011, das 50 vagas oferecidas pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para o curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), para ingresso em 2012, apenas duas foram preenchidas por amazonenses.

Fundação Nokia de Ensino

Estudantes optam por escola de Ensino Médio Integral para passar no vestibular.

Dentre as escolas que tiveram os melhores indicadores nas avaliações do MEC, a Fundação Nokia de Ensino é uma das que se destaca. Levando em conta os resultados do Enem 2010, foi classificada como a 8ª melhor escola técnica do Brasil e a 3ª melhor instituição de ensino do Amazonas.  De acordo com Ana Rita Arruda, o índice de evasão da FNE é nulo e mais de 97% dos alunos entram numa universidade pública.

Além do Ensino Médio Profissionalizante em tempo integral, a FNE oferece cursos extracurriculares de espanhol e de pré-vestibular, alimentação, atendimento médico e odontológico. A matriz curricular da instituição mescla as disciplinas obrigatórias do Ensino Médio com as das áreas técnicas em Elétrica, Mecatrônica, Informática ou Telecomunicações.

Marenice confessa que quando escolheu se inscrever na prova especializada para Elétrica, mal sabia do que se tratava. “Foi um chute no escuro”, afirma. “Mas estou gostando bastante”, complementa. Já Rodrigo Silva de Melo,  de 17 anos, apesar de cursar o 3º ano com técnico em Informática, quer prestar vestibular para Medicina.

“Na verdade, eu entrei aqui em busca de uma escola melhor, para entrar em uma faculdade pública”, esclarece.  Não são poucos os estudantes que estão ali, mas não pretendem seguir a carreira técnica. É também o caso de Emerson Souza Junior, de 16 anos, que está no 2º ano profissionalizante em Mecatrônica, mas está em dúvida se continuará na área ou se arriscará em Letras ou Engenharia Química.

Ambos confirmam que, apesar do incentivo por parte dos professores e da própria instituição para que o aluno prossiga na disciplina técnica trabalhada em sala de aula,  não há um estímulo direto para que atuem na fábrica da mantenedora da instituição. “Lógico que acaba sendo mais fácil ir para lá, mas muitos saem daqui para outras empresas, como a Samsung ou P&G”, relata Emerson.

Projeto social conectado ao negócio

A Nokia financia a fundação por meio de incentivos fiscais concedidos pela Lei de Informática.

A instituição, que existe há 25 anos, nasceu com o objetivo de suprir uma demanda do polo industrial de Manaus de profissionais qualificados para a área.  O prédio é público e toda a estrutura era  mantida, antigamente, pela Sharp, uma empresa de equipamentos eletrônicos. Com a falência da corporação, há 10 anos, passou a ser financiada pela Nokia, por meio da Lei de Informática.

Essa legislação concede às empresas produtoras de determinados bens de informática a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), se um percentual do seu faturamento for investido em Pesquisa e Desenvolvimento. Dessa forma, a FNE é, atualmente, um dos  maiores projetos sociais da Nokia do mundo.

Por outro lado, o presidente da filial da empresa no Brasil, Almir Luis Narciso, deixa claro quais são as intenções da empresa com a entidade. “A Nokia não faz projeto social que não esteja conectado ao negócio.”

Investimento

Em coletiva de imprensa realizada em 30 de março, na própria Fundação Nokia de Ensino, a empresa anunciou o investimento de R$ 40 milhões para reforma do prédio e expansão de vagas. A proposta é aumentar a quantidade de alunos de 1500 para 3500; professores contratados, de 27 para 70; e funcionários, de 70 para 130.

Além disso, a área atual de 5 mil m² construída será ampliada para 14 mil m², em um prédio que, segundo a diretora executiva Fabíola Bazi, será construído com soluções sustentáveis. “Terá aproveitamento de água, tetos solares para uma melhor eficiência energética e cobertura verde”, afirma.  A previsão é que em 2013 a obra já esteja concluída.

* A repórter Marjorie Ribeiro viajou à cidade de Manaus a convite da Fundação Nokia de Ensino.

A Nokia financia a fundação por meio de incentivos fiscais concedidos pela Lei de Informática.

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