Experiências

Projeto Cozinhas e Infâncias conecta alimentação saudável com conscientização ambiental

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Iniciativa do Instituto Comida e Cultura atua na formação de profissionais da Educação Infantil para promover reflexões sobre meio ambiente e cultivar alimentação mais saudável na primeira infância.

Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena

Resumo: Desde 2022, o Instituto Comida e Cultura (ICC) articula conscientização ambiental, política e social com a promoção de uma  alimentação saudável na primeira infância por meio do projeto Cozinhas e Infâncias.
Logo do Especial Racismo Ambiental e Infâncias

Em um prato de comida cabe um universo, que vai desde o direito à alimentação, uma das condições para a aprendizagem e o desenvolvimento integral, a possibilidade de conhecer alimentos novos e mais saudáveis, bem como a Educação Ambiental e a história e a cultura que vários povos têm com aquela comida. 

Em 2022, na EMEI Feitiço da Vila, em um território periférico da cidade de São Paulo (SP), as professoras começaram a apresentar os alimentos e suas origens para as crianças a partir de um passeio à feira livre que acontece ao lado da escola.

Na atividade, as 35 crianças da unidade conheceram frutas, legumes e verduras in natura. “Elas só conheciam picado no prato e isso fez toda a diferença no interesse delas pelo alimento”, conta a coordenadora pedagógica Carolina de Paula Duarte, que reforça a orientação do trabalho de incentivar as crianças a experimentar comidas novas, mas não forçá-las.

No ano seguinte, passaram a apresentar também a origem desses alimentos e seus diferentes usos em cada cultura. “Fizemos um doce de origem africana da Somália, entre outras receitas com tapioca, mandioca, inhame e outros alimentos indígenas brasileiros, e elas também foram contando que comem na casa da avó, da ligação afetiva que elas próprias têm com essas comidas”, relata Carolina.

As famílias também participaram de degustações das receitas preparadas pelas crianças. “Eles gostaram muito das ações e contaram que ajudou a tornar as refeições mais saudáveis e na introdução de novos alimentos”, afirma a coordenadora pedagógica.

Para este ano, preparam ações em torno da autonomia das crianças se servirem sozinhas e criar a consciência de evitar o desperdício de alimentos.

A questão da alimentação faz parte do Projeto Político Pedagógico da EMEI Feitiço da Vila. Lá, não há horário fixo para a merenda e as educadoras se esforçam para acompanhar o ritmo biológico de cada criança. 

Para somar a esse olhar cuidadoso para a merenda, professoras da unidade participaram de uma formação do Instituto Comida e Cultura (ICC) em 2022, que “trabalha a criança como sujeito, o alimento como objeto e o Brasil como espaço”, como explica Ariela Doctors, criadora e coordenadora geral do ICC. 

“Nosso objetivo é dar visibilidade a processos apagados ao longo da história, mostrando para a criança como e onde o alimento cresce, o que ele precisa para sobreviver, como é a colheita e sua transformação em um prato, e o que fazer com os resíduos. Ter esse olhar para o processo como um todo permite que a criança entenda que tudo vem da natureza para ela volta, e dela dependemos”, diz Ariela.

Na formação multidisciplinar com as educadoras, abordam todas as questões em torno das decisões que foram tomadas para alimentar as 7,8 bilhões de pessoas que existem no mundo e suas relações com a crise climática vivenciada hoje.

“Abordamos todo o sistema, a Revolução Verde de 1970 e o que isso proporcionou, e quanto às escolhas alimentares impactam em decisões políticas, ambientais e da vida. As crianças precisam saber disso desde que nascem para tomarem decisões melhores e construírem uma sociedade mais consciente e justa”, afirma Ariela. 

Para Carolina, a formação também trouxe uma reflexão importante acerca da relação com as famílias. Até então, corria um discurso que responsabilizava unicamente as famílias pela alimentação cheia de industrializados dos pequenos. Depois, compreenderam que isso faz parte de uma questão maior.

“Percebemos que refrigerante é mais barato do que fruta. Que as famílias trabalham 8 horas e passam mais 4 no transporte público, então tem dias que só dá tempo de fazer um miojo. Então passamos a incentivar pequenas substituições de coisas simples e ensinamos o melhor jeito de congelar os alimentos”, relata a coordenadora pedagógica.

Para sustentar e ampliar todo esse trabalho de conscientização ambiental, política e social a partir da alimentação, Ariela reforça que o amparo das políticas públicas, sobretudo de formação e financiamento, são indispensáveis. 

“O Programa Nacional de Alimentação Escolar é robusto, prevê essa educação alimentar e nutricional, e proporciona alimentação de qualidade quando cumprido, o que nem sempre acontece. A alimentação é uma responsabilidade individual, mas também do governo, da indústria alimentícia e da publicidade. É um problema gigantesco e a solução passa por uma série de desafios intersetoriais. Que a sociedade toda possa compartilhar essas responsabilidades, porque nossa sobrevivência também depende disso”, destaca Ariela. 

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