Bióloga e educadora ambiental, Débora Pontalti detalha o papel da Educação Ambiental nos territórios educativos e na mitigação da crise climática.
Reportagem: Nataly Simões | Edição: Tory Helena
Resumo: Em entrevista, a bióloga e educadora ambiental Débora Pontalti analisa o papel da Educação Ambiental, além de sua relação com os territórios educativos e a importância do enfrentamento ao racismo para alcançar equilíbrio ambiental.
Mais do que um assunto restrito à escola, a Educação Ambiental pode e deve ser trabalhada além dos muros escolares. Além disso, a Educação Ambiental compartilha a mesma agenda da Educação Integral e dos territórios educativos: o desenvolvimento integral dos indivíduos.
É o que explica a bióloga e educadora ambiental Débora Pontalti, que é mestra em Cidades Inteligentes e Sustentáveis e especialista em Educação Socioambiental e Sustentabilidade.
“Muitos educadores ambientais focam apenas na degradação que o homem provoca na natureza. Isso é um olhar super limitante. Não é possível criar uma sociedade e um planeta com equilíbrio ambiental sem olhar para as questões sociais, para o racismo, para a estrutura da nossa sociedade e como as populações minorizadas vivem”, destaca Débora, que integra também o Conselho Consultivo do programa Educação e Território, da Cidade Escola Aprendiz.
Em entrevista, a coordenadora do Programa Cartinha da Terra em Ação, que forma agentes mirins para a transformação socioambiental em São Paulo (SP), explica que é fundamental a inclusão do racismo e das desigualdades sociais no debate ambiental no Brasil.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
Educação e Território: Como podemos definir o que é Educação Ambiental?
Débora Pontalti: Educação Ambiental não é algo somente do ambiente escolar. Na minha experiência, o que mais busco é desenvolver a Educação Ambiental fora da escola. Os professores já têm muitas demandas a cumprir e acredito que há outros campos em que a Educação Ambiental pode e deve atuar. Principalmente, nas áreas da Cultura, Saúde e Assistência Social. Esses atores e os sujeitos dos territórios também são educadores ambientais, independentemente da área em que atuem.
Quais relações podemos fazer com os territórios educativos?
O território educativo é onde a Educação Ambiental se sedimenta, ela se materializa no território. Tudo o que falamos sobre uma relação mais consciente das pessoas com o meio ambiente acontece nos territórios, nos mais variados contextos, desde a relação com a rua onde moro. A agenda da Educação Ambiental, da Educação Integral e dos territórios educativos é a mesma, já que procuram desenvolver o indivíduo como um todo – e isso só é possível em conexão com o ambiente em que se está inserido.
Como os educadores podem lidar com o negacionismo climático?
Se a pessoa acredita que a Terra é plana, por exemplo, eu não vou conversar com ela sobre o formato da Terra e sim sobre outro ponto. Vou tentar buscar um ponto comum e, a partir disso, estabelecer uma relação de confiança e um caminho para deslocar seu olhar e questionar as crenças que ela tem. Isso também só é possível se eu estiver aberta a ouvir, sem rótulos.
A Educação Ambiental demanda muito da cultura de paz, da comunicação não-violenta e da redução de conflitos. Muitas vezes, o educador se acha o “ponto de luz” do universo e isso afasta as pessoas.
Diante do avanço e agravamento da crise climática, qual seria o papel da Educação Ambiental?
O papel da Educação Ambiental é chegar a todas as pessoas e fazê-las entender que o planeta é um só. Independentemente do posicionamento político, da ideologia, do que se acredita para a própria vida, temos que compartilhar a responsabilidade. Ela deve procurar formas diferentes de abordar o tema [da crise climática] para que todos se sintam pertencentes a esse desafio comum.
É possível pensar uma Educação Ambiental sem considerar o racismo estrutural e combater o racismo ambiental? Em especial no Brasil, país de população majoritariamente negra.
É impossível uma Educação Ambiental que não enxerga a sociedade. Muitos educadores ambientais focam apenas a degradação provocada pelo homem na natureza. Isso é um olhar super limitante. Não é possível criar uma sociedade e um planeta com equilíbrio ambiental sem olhar para as questões sociais, para o racismo, para a estrutura da nossa cidade e como as populações minorizadas vivem.
Quais autores, livros e referências você indicaria sobre essa temática?
Marcos Sorrentino, que é nosso referencial, além de Pedro Jacobi e Rachel Trajber. Eu gosto de citá-los porque olham para o tema considerando que as relações sociais importam tanto quanto as ambientais, trazendo a perspectiva de que não dá para hierarquizar qual pauta será cuidada primeiro.