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Aprendizado sobre mudanças climáticas nas escolas ainda é insuficiente, revela pesquisa

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Reportagem: Nataly Simões | Edição: Larissa Alves

🗒️Resumo: Embora 7 em cada 10 estudantes afirmem ter aprendido alguma coisa sobre mudanças climáticas na escola, um número significativo não está aprendendo nada sobre o tema atualmente, ou nunca aprendeu, de acordo com pesquisa. Especialistas em Educação apontam os desafios enfrentados pelas instituições de ensino para abordar o tema.


“Eu já aprendi. Já foi citado pra gente, mas não é um tema que é muito presente. A gente vê mais por notícias mesmo, que a escola pede pra gente, na verdade, acompanhar as notícias, seguir jornais e tudo mais. Mas na escola mesmo é pouco falado de temas, por exemplo, das queimadas”. O relato é de um dos estudantes ouvidos pela pesquisa Adolescentes, Jovens e Mudanças Climáticas no Brasil.

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O estudo, que mapeou as principais percepções de adolescentes e jovens brasileiros sobre as mudanças climáticas, realizou uma escuta com 200 estudantes de 12 a 18 anos, de escolas públicas e privadas em 10 capitais.

Inédita, a pesquisa foi realizada pelo Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância (CIESPI/PUC-Rio), com o apoio da Fundação José Luiz Egydio Setúbal e Nova Institute, e parceria da Cidade Escola Aprendiz, por meio do programa Educação e Território.

Apesar de 99,5% dos adolescentes já terem ouvido falar sobre mudanças climáticas e 90% estarem preocupados com os seus efeitos, o levantamento mostra que os aprendizados sobre o tema na escola ainda são insuficientes. Ao todo, 7 em cada 10 estudantes afirmaram ter aprendido alguma coisa na escola, mas um número significativo sinalizou não estar aprendendo nada sobre o tema atualmente (11%), ou disse nunca ter aprendido (15,5%).

Em números absolutos, 144 afirmaram ter aprendido alguma coisa, 31 não e 22 atualmente não. Entre os 31 que nunca aprenderam sobre mudanças climáticas na escola, 9 estudantes são de escolas privadas e 22 de escolas públicas.

“O fato de que mais de 25% dos estudantes consultados afirmaram não estar estudando o tema das mudanças climáticas nas escolas preocupa, considerando a importância do debate e o fato de a pesquisa ter sido conduzida no ano anterior à realização de um grande evento sobre o tema no Brasil, a COP30, que ocorrerá em novembro de 2025, na cidade de Belém (PA)”, diz a pesquisa.

Para a pedagoga e mestre em Ciências Ambientais, Mônica Plis Borba, diretora-executiva do Instituto 5 Elementos, os dados da pesquisa refletem as falhas na aplicação da Política Nacional de Educação Ambiental, prevista na Lei nº 9.795, de 1999, e da ausência de formação de professores em questões ligadas ao clima. 

“A Política Nacional de Educação Ambiental orienta que as escolas desenvolvam projetos de forma transversal, que considerem diversos conteúdos das diversas áreas do conhecimento e o envolvimento da comunidade no entorno. Porém, as escolas têm uma grade curricular muito intensa e rígida de disciplinas e somente uma escola de período integral com professores de dedicação exclusiva poderiam desenvolver projetos nessa área, desde que bem formados também, envolvendo também a comunidade local, as famílias, por meio de projetos que os próprios jovens pudessem propor”, afirma Mônica, que também é conselheira do Educação e Território.

Foto: Seduc Maranhão

Aquecimento global é o tema mais aprendido na escola

Entre os estudantes que aprenderam ou estavam aprendendo algo sobre mudanças climáticas na escola, o aquecimento global é o tema mais mencionado, sendo citado em 28 respostas. Queimadas (20), poluição (17), o efeito estufa (15), o tratamento e descarte inadequados do lixo (9), o derretimentos das geleiras (9) e enchentes (8) também são assuntos que se sobressaíram.

Alguns alunos não especificaram o conteúdo que tinham aprendido ou estavam estudando e alguns citaram apenas as matérias que abordavam as mudanças climáticas, como geografia (35) e ciências (14). Oito estudantes também sinalizaram que o conteúdo é trabalhado de forma superficial pelas escolas.

“Na escola pública, no caso a que eu estudo, a gente não aprendeu nada sobre essa coisa da queimada. E eu acredito que sim, a gente tem que aprender. A gente aprende muito mais na rua do que na escola. Eles falam muito pouco”, diz uma estudante ouvida pela pesquisa.

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O pós-doutor em Educação para a Sustentabilidade, Edson Grandisoli, diretor do Movimento Escolas pelo Clima, iniciativa que conta com mais de 1.200 instituições signatárias e oferece formações e materiais para as escolas realizarem ações nessa área, avalia que as mudanças climáticas são um tema em processo de amadurecimento nas escolas.

“Ainda estamos em um momento inicial de chegada desse tema com mais assertividade nas escolas e na educação básica. A pesquisa vem em um momento de transição. Ela mostra que muitos estudantes já ouviram falar em mudanças climáticas, mas eles têm um conhecimento superficial. À medida que o tempo avance e as metodologias melhorem, a tendência é que o assunto apareça cada vez mais dentro dos programas de aulas. A própria definição de educação climática ainda está se estabelecendo para ganhar contornos dentro da escola”, defende.

Foto: Prefeitura de Louveira (SP)

Como abordar as mudanças climáticas na escola?

Para apoiar o trabalho das escolas, o Instituto 5 Elementos lançou uma plataforma on-line de educação para a sustentabilidade, onde orienta, ensina e apoia os professores a como desenvolver projetos de educação ambiental.  “Nossa formação trabalha com o desenvolvimento de uma cultura de sustentabilidade. O nosso foco atual, é formação de professores, exatamente para que eles possam desenvolver bons projetos nas escolas”, explica Mônica Borba.

Já o diretor do Escolas pelo Clima, Edson Grandisoli, recomenda que os professores explorem datas comemorativas e estratégias que envolvam o núcleo familiar dos estudantes.

“Há caminhos para trabalhar, como a conexão com a natureza, a compreensão dos impactos da atividade humana na natureza, a perda de biodiversidade  e depois se aproximar de temas mais complexos como os recursos naturais do consumo. Ao aumentar a complexidade, deve-se buscar caminhos para levar a temática para a casa, a fim de levar informação de qualidade para as famílias. Eu gosto muito de usar pesquisas com entrevistas com as pessoas que compõem o núcleo familiar”, sugere.

Acesse todos os dados da pesquisa “Adolescentes, jovens e mudanças climáticas no Brasil”.